sábado, 3 de outubro de 2009

SIMPLESMENTE TOCAR SEU MANTO


O tom sepulcral daquela noite parecia estender-se pela eternidade...
Nada rompia o silêncio, apesar do numero de pessoas naquele local...
Nem mesmo o som ínfimo de uma respiração...O vácuo eterno imperava por todas as alcovas e principalmente ali na sala do trono...
De pé, olhando pela janela vestido de forma impecável estava ele aguardando apenas um sinal...
Toda a mediação do castelo estava guardada por seus leais escudeiros...
Passam-se segundos... minutos... horas...
O pensar torna-se incomodo nesse momento...
Nada... Nem um sinal...
E ele ali parado...
Olhando para a floresta que antecede uma planície simplesmente iluminada pelo luar... olhando para o caminho que corta a planície e some ao contornar um monte...
De repente o tão aguardado sinal parece materializar-se... mas a dúvida o confrontara...
Ele vai em direção a sacada e posiciona-se de maneira real...
Todos se colocam de pé...
Ao longe, no pé do monte vê-se um brilho... parece um pirilampo... parece uma vela... move-se de maneira ritmada...
Aquele brilho tão pequeno torna-se o raiar da manhã...
Rompe o monte...
Rompe o caminho...
Rompe a planície...
Adentra na floresta e estaguina-se...
Depois de um período curto de nebulosidade, o simples archote torna-se o astro rei, o sol...
O jovem guerreiro como combinado apenas ajoelha-se e o rei dá-lhe as costas... vai em direção a mesa... acende uma vela... e como se fosse o mais puro mel, lança sobre o papiro a cera derretida... e o sela com toda a pompa de um Rei...
Lança-se em direção a porta... desce as escadarias... passa pelo pátio principal e depara-se com o jovem esfarrapado, mas com um ar de vitória...
O jovem se levanta...
O Rei, simplesmente toca em seu ombro...
Nem uma palavra entre ambos...
Só o silêncio... mais uma vez o silêncio...
Ambos retornam pelo mesmo caminho...
Logo atrás sua comitiva...
Adentram na floresta, ladeada por árvores frondosas que impedem até a visualização do céu... a luz da lua torna-se impenetrável... a escuridão é mortal... mas aquele sentimento era vivo, real e sentido...
Rompem a planície...
Rompem o caminho...
Circundam o monte e...
O cenário era dos piores...
Corpos, sangue, pedaços, feridos, dor e sofrimento...
Ao deparar-se com seu líder, o general daquele gigantesco exército brada: “-Vida, honra e glória ao nosso rei!”...
Todos se ajoelham, mesmo na situação que se encontravam...
O Rei rompe o silêncio que sufocava sua alma...
Chama para sua presença o valente que comandou aquela ordem...
Ele se põe de pé e vai de encontro ao seu senhor... ajoelha-se novamente...
O Rei o segura pelas mãos... o levanta... entrega a ele o papiro... o presenteia com uma espada forjada artesanalmente, toda trabalhada em ouro...
Vira-se para aquela multidão de homens....
Felicita-os...
O som do sepulcro agora é invadido por urros...
Novamente vira-se para aquele que representa a vitória de um reino inteiro... e diz: “Pede-me algo e será feito!”...
Aquele homem marcado pela guerra retruca: “-Quero ser digno de apenas tocar o seu manto!”...
E o rei responde: “- Tu és digno de tocar meu manto... Toca-o!”...